terça-feira, 7 de abril de 2009

Ideias Soltas: Extinção das funerárias


Não sou um comunista nem um radical de esquerda, mas devo manifestar a minha concordância com uma célebre frase de Marx: "O dinheiro é a essência alienada do trabalho e da existência do homem; a essência domina-o e ele adora-a". Com efeito, cada vez raciocino mais numa lógica sociológica marxiana de uma Infra-estrutura constituída pelas relações de propriedade e produção, sendo que a classe dominante influencia toda a Superestrutura social mediante a sua ideologia, alienando todas as vertentes da vida colectiva.

Esta formação ideológica materialista está bem patente nas funerárias. Se o Capitalismo apela ao lucro através de negócios que muitas vezes provocam o sofrimento de vivos, então que dizer de uma empresa que lucra através da morte? De alguém cuja fonte de rendimentos depende do falecimento de pessoas, muitas vezes moradoras no mesmo local ou freguesia? Já para não falar nas negociatas com os hospitais, como forma de manter receitas avultadas.

O meu cristianismo recorda-me que todos somos iguais perante Ele, na hora do destino ajustar contas connosco. Se isto é verdade, então qual a razão que suporta a diferença de tratamento nos funerais? O dinheiro? Sem dúvida, experimentem visionar um cemitério de uma perspectiva abrangente e reparem que as campas condizem bastante com o estrato social do falecido.

Defendo, por isso, o igual tratamento na hora fatídica, num evento realizado pela autarquia ou concelho, cujo preço deveria rondar apenas o seu custo de produção, para não se verificar, como Santo Agostinho afirmara, que "os preparativos do funeral, a escolha do túmulo, a pompa fúnebre, mais do que homenagem ao morto, são consolo para os vivos".


imagem: António (cartoonista Expresso).