quinta-feira, 2 de julho de 2009

O voo do gavião

(da esquerda para a direita: Nélson, Frederico, Nuno, Costa, Tocha e Fábio)


"Meus amigos, esta taça não é apenas um pedaço de metal. Nela estão contidos suor, lágrimas, esforço e dedicação. Ultrapassámos muitos obstáculos. Mas como uma vez me disseram: as gaivotas só repousam para se lançarem em novos voos. Nós não somos gaivotas mas somos os gaviões,
e somos os maiores!"



A palavra futebol nas elites das transacções milionárias e das cotações dos seus agentes, por vezes ofusca a mais bela propriedade do futebol amador: o Sonho ou, se preferirem, a capacidade de abstracção da realidade. Por futebol amador, entenda-se provindo do verbo amar.

Este é o panorama superficial, puro e duro com que nos deparamos. É a (ir)realidade de assistirmos à equivalência de protagonistas de negociatas, que pretendem igualar o protagonismo de um golo de belo efeito a um valor astronómico agitador do mercado de jogadores. Talvez seja mesmo a lei da complexidade crescente aplicada ao futebol, com o surgimento de novos actores - muitos deles corporações económicas - e com a emergência dos clubes-empresas, enquanto outras colectividade com menor propensão para o mercado desaparecem, embora possuam tradição e simbolismo. Já não são os pés sonhadores do menino Ronaldo que jogam, são as suas Mercurial Vapor coloridas.

Contudo, existe um rectângulo localizado num outro planeta futebol, cuja paixão pelo jogo em si, não desaparece. É o planeta daqueles que inclusivamente pagam para jogar, na esperança que o seu contributo embeleze o futebol. Diria mesmo, que é o conjunto de equipas formadas pela emoção e imaginação moldadas em corpos humanos.

Neste mundo novo a que me refiro, descobri nos meus colegas de equipa dos Gaviões, esse futebol em estado puro, dos grandes golos e da grande atitude, em prol de uma vitória que não nos garante prémios milionários. Com efeito, garante-nos honra e reconhecimento, uma recompensa sem valor, porque não há dinheiro que nos compre o amor pelo jogo, entenda-se amadorismo.

Por isso afirmo que, os meus verdadeiros heróis futebolísticos são os meus amigos dos Gaviões, porque foram eles que me provaram que o futebol não tem credos, etnias, religiões ou estratos sociais. São jogadores que depositam em cada jogada, a esperança de um dia melhor, a evasão e abstracção da realidade, o Sonho. Eles sim, demonstraram-me que é possível sobreviver aos problemas e viver em campo sob laços de companheirismo.

Os Gaviões encarnam esta bela citação de Marcel Proust: "Mais vale sonharmos a nossa vida do que vivê-la, embora vivê-la seja também sonhar", dado que repousam na vida para se lançarem em novas conquistas que alimentam, pois são Gaviões que voam com os pés bem assentes na terra.

Em homenagem a eles coloco este texto aqui, porque me fizeram acreditar no contratualismo de Rousseau numa vertente futebolística: foi a estrutura social que corrompeu o Homem, inocente por natureza. Neste caso, foi o profissionalismo, a mercantilização e os jogos de poder presentes no federalismo deste desporto, que apagaram a paixão. Podemos voltar ao estado de natureza? Não. Mas podemos devolver o futebol a outros gaviões, para que o voo envolto num sonho, regresse.





P.S: Dedico este texto à minha equipa dos Gaviões. Espero que consigam concretizar todos os vossos objectivos, porque talento e paixão não vos falta.

P.S 2: A Taça que vencemos prova que, com determinação e vontade, tudo conseguimos. Espero que absorvam esta lição.

P.S 3: Gostaria de agradecer à minha professora Cândida, de História do 9ºano, esta bela frase das gaivotas, proferida na despedida dos seus alunos que iriam voar para um novo ciclo de estudos. Só agora dou real valor a essa citação.

1 comentário:

Dalaiama disse...

Epá que boa onda!
Belo texto!
Já vi que andamos os dois a sorrir com o calor contente dos amigos!
;)