terça-feira, 31 de março de 2009

Idealismo



Sim sou idealista, o que pode parecer louco em maré de pragmatismo e descrença mundiais. No entanto, sei que se não fosse o Sonho de Luther King e Nelson Mandela ou o Amor de Ghandi e Madre Teresa de Calcutá, ainda que não tenham tornado o mundo num paraíso, tornaram-no um local melhor.

É bom que exista o idealismo e a vontade d'Ele, nem que seja para servir de antítese à civitas diaboli em que vivemos, e permita a realização de um Espírito, de um Geist, que nos faça progredir para um estágio melhor que o anterior.


imagem: 1st Place: Alanzo Moreno and Jonathan Bout, Damien High School, La Verne, CA

segunda-feira, 23 de março de 2009

"A chapada da mão invísivel" e "PSD - Popularucho, Só e Direitista"




«Não tenho estado contra o investimento público, mas contra algum investimento público. Há investimento público de proximidade, que não tem componentes importadas, que não tem encargos para orçamentos futuros e que utiliza mão de obra nacional e que tem efeitos imediatos para o crescimento, com certeza que ninguém está contra ele.»

Manuela Ferreira Leite, líder do PSD



A Humanidade assiste a mais um crash provindo do american business way de Wall Street que tem devastado o mundo e, por conseguinte, a Europa, exceptuando casos como a Eslováquia e a Polónia. A sua origem, à semelhança de 1929 prende-se com o laissez-faire do Marquês de Argenson, desta feita revestido no neo-liberalismo de Milton Friedman, aplicado outrora pela dama de ferro e pelos Chicago boys, compañeros de Pinochet. Com efeito, George Bush foi apenas mais um utilitarista aplaudido pelos gestores e especuladores da Bolsa, que seguiu uma linha económica Lehmann Brothers mais individualista e quase nozickeana, que despreparou uma sociedade, contra a "Teoria da Justiça" de Rawls que agora é relembrado com o Yes, we can de Barack Obama, e oposta ao intervencionismo de Cambridge. Afinal o véu de ignorância deve ser respeitado e aplicado bem como o controlo da economia em sectores estratégicos.

O resultado de tal desregulação que permitiu aos Maddoff's arruinarem inúmeras famílias, permitem pelo menos agora uma nova discussão que nos permita alcançar patamares de entendimento globais que permitam colocar nomos na oikos. Deve ser discutida uma solução que permita não só a resolução da crise a curto como a longo prazo, uma resolução estrutural que permita às famílias defenderem-se do espirro americano, epicentro de todos os sismos capitalistas.

A grande mudança das estruturas ainda agora começou com reuniões do G-20 a aguçar o apetite, e com a proposta dos bancos a comprarem activos tóxicos por parte de Obama. Todavia são já notadas medidas conjunturais de combate à crise que espelham bem a tendência intervencionista e esquerdista de lidar com a ruína humana. Como exemplo temos as nacionalizações do sector bancário, a ajuda às empresas, e o reforço do Estado-Social. Parece que afinal o New Deal e o Keynesianismo não deveriam ter sido esquecidos como reprimenda de uma mãozinha invísivel marota, à moda de Adam Smith.

Em Portugal como em outros países, o panorama tem sido este, embora com propostas que divergem da Esquerda e da Direita do espectro político. Porém, sejam quais forem as opiniões, a Europa e o Uncle Sam, assim como os principais nomes da economia mundial alertam para o facto do perigo do proteccionismo que pode colocar em risco pequenas economias do ponto de vista mundial como a portuguesa.

O mercantilismo moderno, juntamente com o clima pesado da crise representam muitas vezes um perigo de nacionalismo primário.

Neste quadro que aqui foi desenhado, aparece a Dra. Manuela Ferreira Leite. A líder laranja, presente em Paris, num discurso a puxar para o populismo de exaltação patriótica dos emigrantes, profere aquilo que citei acima. O que representa um erro grosseiro não perdoável com a desculpa das más interpretações. Aliás, estas "pérolas" da antiga ministra das finanças não são raras infelizmente. Lembrarei que esta senhora é da opinião que o investimento público apenas emprega PALOP's, que necessitamos de uma ditadura temporária para colocar o país em ordem, que a comunicação social não deve escolher a emissão do seu noticiário - dêem-lhe o lápis azul por favor - e agora, para espanto dos mais desatentos, que o país só deve empregar mão nacional sem componentes importadas. Agora lembrem-se da situação vivida pelos portugueses em Inglaterra para avaliar estas declarações. Para piorar, o que seria de nós sem as contribuições dos imigrantes para a produtividade e contabilidade nacionais! É a campanha "Portugal para os portugueses"? É o "Orgulhosamente Sós"? Para primeira-ministra não sei, mas para líder do PNR, encontra-se muito bem lançada!

O Capitalismo é um paradigma quase que irrefutável, que venceu a guerra-fria do colectivismo - embora permaneçam alguns focos de guerrilha -, e que se apresenta como a melhor solução na distribuição dos recursos escassos. No entanto, este deve ser corrigido e direccionado para o bem-comum, deve complementar a necessidade do mercado externo das pequenas potências externas com a preocupação social. No fundo deve, num elogio aristotélico, ser moderado, para que impeça que um inimigo invísivel nos tenha na sua mão.



imagem: www.sergeicartoons.com







domingo, 22 de março de 2009

Não percebem...


Não percebem que eu não exagero quando digo que o vosso exagero na sociedade do consumismo, consome-me por dentro.

quinta-feira, 19 de março de 2009

No silêncio da noite...



No segredo da noite, confio meus segredos à melancolia. Ela para além de atenta e compreensiva, é boa ouvinte e não possui qualquer preconceito ou ideia pré-concebida. Ela possui uma voz que me entristece e me alegra, me acalma e desperta, numa conversa sem fim. Aliás, talvez procure a Verdade platónica ou a síntese hegeliana na minha dialéctica que espero sempre fechada, embora saiba a impossibilidade de tal acontecer. Afinal de contas, nunca chego a uma conclusão.

Conto-lhe tudo e procuro uma resposta dela. Digo-lhe que quanto mais conheço do mundo, mais o consolo da solidão procuro. Digo-lhe que vozes amigas tenho muitas, cuja força é grande, mas que não conseguem demover-me da minha crença de que sou um fraco sem coragem de dar o passo em frente, quando é necessário. Na verdade, pareço que assisto ao progresso e evolução de todos a uma velocidade estonteante, enquanto permaneço inerte, desculpando-me com o que não tem perdão. Não vale a pena culpar a sociedade e a sua infra-estrutura provocadora de uma super-estrutura viciosa, uniformizadora, suja, cruel e sem escrúpulos. Não vale a pena procurar resposta no humanismo real sartreano, culpando a coisificação de que sou alvo dos outros.

É melhor prosseguir a minha dialéctica com a melancolia agora, porque hoje mais tarde, falarei com Ele, que numa palavra me transforma fraquezas em forças. Contudo, não posso contar nada. É segredo.

terça-feira, 17 de março de 2009

Joseph Fritzl: A outra derrota da modernidade


O dossier azul com que esconde o rosto, não encobre a verdadeira face de Joseph Fritzl, o homem que relembrou-nos que o progresso humano incessante, não passa apenas de um mito, a esperança infundada de uma humanidade que, no ritmo alucinante deste mundo globalizado e portador de nova crise made in EUA, acredita na evolução do globo para uma nova era.

Este senhor teve o condão de demonstrar o quão essas pessoas se iludem. Os crimes monstruosos não são apenas fruto na necessidade ou dos instintos, são afinal também frutos da Razão . Na verdade, os pais da democracia Voltaire, Montesquieu ou Locke, mas principalmente autores como Kant, não fazem qualquer sentido quando revemos documentários afectos ao Holocausto ou lemos noticiários deste caso austríaco.

O Homem afinal não faz uso da Razão apenas para seu desenvolvimento e, por conseguinte, dos seus próximos. Não são os seus desejos de progresso científico que o despertam para uma noção de humanidade, ou o seu imperativo categórico kantiano que acaba por uniformizar as acções bondosas do ser-humano. Não, não e não! O ser-humano é também capaz de elaborar tecnologia que prossiga objectivos monstruosos que envolvam o extermínio ou genocídio. É capaz de de se desumanizar, é talvez capaz de nos demonstrar o nihilismo de Nietzche, que "Deus morreu", mas principalmente que "o Homem morreu", como defendera o estruturalismo francês, fruto das relações sociais opressoras que nos constituem e nos influenciam, fruto da nossa vontade de poder segundo Foucault.

Por isso penso ambiguamente acerca do Homem porque, se até Anne Frank acreditava, apesar de tudo, na bondade humana, e se a minha crença também reside na utopia do Tratado da Paz Perpétua e na minha fé cristã, então devo acreditar como Confúcio, que todo o homem pode ser bom. Contudo outra lição filosófica se impõe com base no pessimismo antropológico de Hobbes: "o homem é o lobo do homem".

quinta-feira, 12 de março de 2009

Nenhum homem é ilegal



O título deste texto baseia-se numa afirmação proferida pela Dra. Ana Martins, representante da AMI, que muito me sensibilizou na última conferência promovida pelo NES acerca da inserção social e minorias étnicas. Tema este do qual discorrerei nos seguintes parágrafos.

O nosso Portugal, país marcado historicamente pela emigração, começou a viver na década de oitenta, o efeito contrário dos fluxos imigratórios de uma forma massiva, principalmente com objectivo laboral. Vários foram os factores de atracção que contribuíram para essa situação, e que são apontados pelo sociólogo Fernando Luís Machado: reforço da política de obras públicas; ausência de mecanismos de restrição; e a formação de redes migratórias. A adesão portuguesa à CEE também possibilitou e facilitou a entrada de uma imigração europeia qualificada e interessada na nossa abertura ao investimento estrangeiro. Mas essa não é relevante para o raciocínio.

Com o advento de vários imigrantes, de onde se destacam os provenientes dos PALOP e do Brasil – e mais tarde, nos anos noventa e seguintes, de asiáticos e europeus de leste – a realidade do nosso país tornou-se cada vez mais complexa e dotada de multiculturalidade, começando a surgirem os efeitos dessa novidade. Com efeito, ainda hoje os impactos da imigração permanecem por ser aprofundados, embora seja certa a contribuição benéfica a nível de contas públicas, para além de uma preciosa ajuda ao combate do envelhecimento na Europa, neste caso Portugal. Todavia existe o outro lado, onde os trabalhos precários começam a ser preenchidos pelas vagas de imigrantes e a paisagem urbanística começa a ser desenhada com bairros de lata (não que fossem inexistentes anteriormente, mas desta feita em maior escala e habitada por estrangeiros). Neste contexto, começam a circular as queixas por parte dos autóctones. No topo das suas acusações prendem-se denúncias de aumento de criminalidade, de crescente desemprego no seio dos nativos (aparentemente “roubado” pela imigração), e concorrência salarial desleal.

Esta conjuntura tem permitido o aparecimento de ondas discriminatórias camufladas em nacionalismos exacerbados e de propostas de restrição da imigração – como aliás o CDS-PP sugeriu recentemente. Daqui parte a questão: a imigração é a fonte dos problemas do país? Ou estamos diante de vergonhosas campanhas xenófobas como a do PNR? Antes de partir para a minha opinião, devo desde já dirigir o meu aplauso a José Sá Fernandes pela proibição do cartaz do PNR referente à imigração. Caro José Pinto Coelho, não é perseguição política, é apenas fidelidade aos valores da nossa Constituição.

Para mim a precariedade e criminalidade violenta cometida pelos imigrantes (embora também seja praticada por portugueses), é fruto de uma razão simples: uma deficitária política de imigração e integração social.

Como já tinha referido, os anos oitenta ficaram marcados pelo péssimo controlo de fronteiras, o que provocou uma subida significativa da taxa de imigração nacional. A este facto se somarmos a política de integração às minorias étnicas que dispúnhamos até à criação dos centros nacionais de apoio ao imigrante (CNAI) em 2002, vislumbramos que aqui reside grande parte da explicação para os problemas provenientes das imigrações. Até essa data, eram notórias a falta de interdependência dos órgãos da Administração Pública e a gritante burocracia dos serviços. Em boa verdade me recordo da angústia de amigos meus que esperavam uma eternidade por um visto de residência que lhes permitisse estudar, trabalhar ou integrar actividades culturais e desportivas. Para piorar o cenário, muitos foram os bairros sociais criados para albergar as minorias, sem qualquer tipo de critério e susceptíveis de discriminar quem lá vive. Convido qualquer um a visitar, e garanto-vos que entrarão num mundo aparte. A integração em países como a Suiça, podem servir de lições para Portugal ou França. Na verdade, muitos dos jovens criminosos são já portugueses e por isso nascidos na realidade do isolacionismo.

Poderia ainda referir o que para mim constitui uma discriminação a nível dos Media. Bastará atentar no conteúdo da ficção nacional para percebermos que as minorias não estão representadas.

O ideal é uma política de controlo e de integração fortes, que nos possibilitem arrecadar todos os benefícios da imigração e diminuir os seus prejuízos. Todavia sem extremismos e sem criar um Estado-fortaleza ou uma Europa-fotaleza na concepção de Sarkozy. Para mim, fechar as portas à imigração é colaborar com crises humanitárias como conflitos militares ou crises climáticas e alimentares que devastam várias regiões do terceiro-mundo.

A questão é estrutural e envolve uma melhoria dos serviços de integração prestados que progressivamente está a ser realizada, até porque os laços de solidariedade social defendidos pelo socialismo democrático moderno também passam por este apoio aos mais necessitados, que acabam de pisar solo português. No entanto é de elogiar o magnífico trabalho realizado pelas várias organizações de apoio à imigração e comunidades minoritárias. Tive o prazer de me deslocar com o meu camarada André à Cova da Moura e presenciei o excelente trabalho efectuado pelo Moinho da Juventude. São estes exemplos que dão razão a Boaventura Sousa Santos, que muito bem defendia que Portugal possui um Estado-Providência fraco mas uma sociedade civil forte.

P.S: Dedico este texto ao meu amigo Eucride Varela, cobardemente e brutalmente assassinado no Colégio Pina Manique. Um rapaz de sorriso humilde e com orgulho nas suas raízes são-tomenses, mas completamente integrado na nossa sociedade. Um exemplo para todos.


Também disponível em http://www.nes-iscsp.blogspot.com/


Cartoon de Cristina Sampaio - Vencedora do primeiro prémio na categoria de cartoon editorial do World Press Cartoon 2007.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Africa News



A minha navegação via web matinal reservou-me uma surpresa bastante agradável. Com efeito, enquanto procurava noticiários referentes aos vários continentes, eis que me deparo com este grande site relativo às novidades e culturas africanas. Para quem como eu, aprecia a investigação deste continente-berço da humanidade, ficará satisfeito com o conteúdo.

Deixo-vos então o site: http://www.africanews.com/




Pintura de Kiki Lima

quinta-feira, 5 de março de 2009

Tenho que para mim...


Tenho que para mim
Tudo tem início, meio e fim.


Tenho que para mim

Buscamos início para introdução

Em vista de algo que conclua

Um desenvolvimento de um meio

Para se atingir um fim.


Todavia, o início é desenvolvimento

Porque na formação de um início

Este é uma introdução do nada,

Sendo que nada é algo,

Esse algo é um meio de chegar a um início,

Ao mesmo tempo que se conclui,

Sendo fim, o próximo início em desenvolvimento.


Porém, visamos algo, um fim

Porque não haveria início ao desenvolvimento

De algo sem visar uma conclusão.

Por isso, tudo tem um fim.

Eu tenho o fim de iniciar uma introdução

Que me possibilite ter como fim o desenvolvimento

De uma conclusão para o meu fim.


Tenho que para mim

Tudo tem início, meio e fim.

Mas sempre iniciando um desenvolvimento

Que me permita chegar a um fim

Que se traduz num novo início.


Tenho que para mim...


Casapio di Caffi

Investimento no futuro...

É com enorme prazer e confiança num futuro melhor, que assisti ao objectivo proposto pelo primeiro-ministro José Sócrates. Refiro-me obviamente à universalização da pré-escolaridade em concertação com as autarquias e as IPSS.

Como eu já tinha escrito num texto anterior, a educação é a base que sustenta os valores e estimula a capacidade dos seus cidadãos na criação de uma sociedade mais competitiva e competente, algo que está a ser realizado por esta governação socialista através de inúmeras medidas como o programa Novas Oportunidades, o Plano Tecnológico com os programas e.escolas e e.escolinhas, a avaliação do desempenho dos professores, entre muitas outras. É caso para dizer que finalmente existe um governo que coloca a reforma da educação como prioridade para o nosso país.

Com esta proposta socialista, não está apenas em causa a melhoria da educação e da formação dos cidadãos, mas também uma orientação rumo à igualdade de oportunidades e da justiça social. Constitui para as famílias com menos posses, a colocação dos seus filhos no ensino pré-escolar numa conjuntura de crise económica profunda.

Não quero, contudo, deixar de felicitar o investimento público inerente a esta medida, que garantirá maior emprego. Com efeito, gastos na educação não são despesas mas investimento.

Devemos por isso, aplaudir mais este avanço rumo a um futuro mais risonho, que certamente dará frutos ao nosso país. O próximo passo poderá ser a gratuitidade do material escolar até ao secundário e a obrigatoriedade do 12º ano.

Neste panorama de depressão mundial, é necessária a mudança para um paradigma que se afirme como a melhor resposta aos obstáculos presentes na economia global. Neste sentido, partilho da opinião de Mário Soares, que afirmou numa entrevista com a Constança Cunha e Sá, que o mundo caminha para um esquerdismo, porque essa é a melhor opção. Sem dúvida. Depois da depressão de 1929 e a reforma de um capitalismo selvagem; depois da queda do muro de Berlim e desmistificação do colectivismo; e finalmente, depois de uma crise financeira que se traduziu numa multiplicidade de problemas económicos e sociais e na falência do modelo neoliberal, deparamo-nos agora com aquela que parece ser a solução político-social mais acertada: o socialismo democrático.