sábado, 19 de junho de 2010

Tempo

A Física é daquelas ciências em que se adora ou se detesta mas que tem um papel importante no nosso conhecimento e na maneira de ver o mundo à nossa volta.

Posso dar-vos já um exemplo: Tempo. Toda a gente toma o tempo por garantido. Afinal de contas é algo simples, que usamos dia-a-dia para descrevermos as alturas do dia, para marcarmos um compromisso, etc. Aliás, até à pouco tempo, pensava-se que tempo era igual em todo lado, caso fosse meio-dia na Terra, era meio-dia em Vénus, ou seja, era uniforme pelo Universo fora.

O problema nisto tudo é que não poderia estar mais longe da verdade...
Foi com Albert Einstein que a perspectiva de tempo começou a mudar. Afinal o tempo não é universal, mas sim dependente de um referencial. Na verdade, basta só olhar para as nossas medidas de tempo e denotamos que são todas baseadas em referenciais astronómicos. Nós usamos a rotação da Terra para definir o tempo equivalente a 1 dia, as fases da Lua para definir o espaço de tempo de uma semana, a lunação para definir o espaço de tempo de um mês, a translação da Terra para definir um ano, etc.

O mais incrível nisto tudo, é que se vivêssemos em Vénus, por exemplo, um dia não deixava de ser um dia, mas o tempo que levava Vénus a dar uma volta sobre si própria (o que nós chamaríamos de dia no planeta Terra), levaria 243 dias, ou seja 1 "dia" no Planeta Vénus corresponde a 243 dias no planeta Terra.

Também foi com Einstein que se considerou o tempo como a 4ª dimensão do espaço-tempo, sendo que 3 dimensões são espaciais, as que conhecemos, e a 4ª é temporal. Teoricamente, o Universo ainda está em expansão, não só as 3 dimensões que conhecemos mas também a 4ª dimensão, o tempo. Por isto mesmo, apesar de um segundo permanecer como um segundo, o intervalo de tempo desse segundo vai aumentando, sendo que quando o Big Bang sucedeu-se, um segundo era quase uma eternidade.

Isto leva-nos para a parte que provavelmente interessa-vos mais: viagens no tempo. Viagens no tempo, não são impossíveis. Com efeito, viagens para o futuro são bastante simples, quanto maior velocidade um corpo se desloca, mais lentamente o tempo passa para esse corpo.

Assumindo que eu estivesse a deslocar-me no Universo perto da velocidade da luz (visto ser impossivel eu viajar à velocidade da luz) durante algum tempo, quando eu voltasse ao planeta Terra, enquanto as pessoas tinham envelhecido, o tempo para mim passou muito devagar logo eu era ainda novo, logo eu tinha viajado no futuro. O maior problema é viagens no passado, sendo que isto é muito mais complicado apesar de não ser completamente descabido. Na verdade, viagens para o passado não violam qualquer lei do Universo/Física, ainda que dificilmente sejam realizadas.

E porque é que é impossivel ultrapassar a velocidade da luz?

Afinal de contas, nada ultrapassa a velocidade da luz. Os fotões viajam à velocidade da luz, e estes não possuiem massa. Quanto maior for a velocidade de um corpo, mais pesado ele fica, logo precisa de mais energia para continuar a sua velocidade ou aumentar. Uma particula com massa necessitaria de infinitas quantidades de energia para viajar à velocidade da luz.

Este tema é bastante fácil de escrever e perceber, mas ainda há muitas pessoas que tomam o tempo por garantido, quando na verdade, têm ideias erradas em relação a este. Contudo, existe uma questão que provavelmente nunca chegaremos a um consenso:
O que é o tempo?

Esta questão é muito dificil de responder porque o tempo é apenas um evento psicológico, apenas uma sensação derivada da transição de um movimento.

"Uma ilusão. A distinção entre passado, presente e futuro não passa de uma firme e persistente ilusão." - Albert Einstein


Francisco

Novo membro

É com prazer que anuncio que o blog Humilde Aprendiz conta agora com um novo membro. O seu nome é Francisco e é um aluno que se prepara para transitar para o 10.º ano de escolaridade.

Apesar da sua tenra idade, escreve consideravelmente bem e nutre um interesse particular pela Física, área pouco abordada por mim por falta de conhecimento aprofundado. Assim, o blog ganha versatilidade e diversidade em todos os aspectos, razões mais que suficientes para eu aceitar mais um aprendiz humilde.

Espero que gostem tanto da sua contribuição como eu!

Bem-vindo Francisco!

terça-feira, 30 de março de 2010

"As mãos sujas" da participação política...



A abstracção do conceito de participação remete semanticamente a acção de tomar parte de, o que dificulta a sua conceptualização e operacionalização em relação à política. Com efeito, a generalidade e complexidade que lhe estão inerentes origina variadas divergências reflectidas em diferentes correntes de opinião, dificultando a percepção do que é de facto a participação política.

Tentando uma definição, talvez arriscasse em acção legal ou ilegal que visa influenciar o poder político, seja na esfera política ou cívica. Contudo, até esta acepção poderia ser alvo de críticas. Daí que, para efeitos deste texto, apenas queira referir a linha ténue que separa uma acção política de uma que não possui essa natureza no domínio das atitudes e comportamentos, aquilo a que Kaase e Barnes incluíram no seu repertório de acção política como uma participação latente que motiva a participação manifesta (acção mensurável). Em suma, vou focar-me no domínio subjectivo da participação política e demonstrar através de dois excertos da obra As mãos sujas de Jean Paul Sartre, o quão curioso é o facto de uma espontânea mudança de atitude distinguir o que acção possui um carácter político. Ora atentem nestes excertos:

"Hugo: Deixa lá, Jessica, deixa. Não te quero mal por isso e não tenho cíumes; nós não nos amávamos. Mas ele, ele é que por um pouco não me apanhava. «Eu te ajudarei, darás um homem muito aceitável.» Que parvo que fui! Ele estava a gozar comigo.

Hoederer: Hugo, será preciso dar-te a minha palavra de honra...

Hugo: Não se desculpe . Pelo contrário: eu até lhe agradeço; assim, uma vez, pelo menos, me terá dado o prazer de o desconcertar. E afinal de contas... afinal... (Precipita-se para a secretária, agarra no revólver e aponta-o a Hoederer.) Afinal o senhor libertou-me.

Jessica, gritando: Hugo!

Hugo: Está a ver, Hoederer? Eu olho para si nos olhos, faço a pontaria, a minha mão não treme e não me importo com o que lhe passa pela cabeça.

Hoederer: Espera! Espera! Não faças asneiras. Por caisa de uma mulher, não! (Hugo dá três tiros. jessica põe-se a gritar. Slick e Jorge entram na sala.) Imbecil! Estragaste tudo.

Slick: Safado!

(Tira o revólver a Hugo.)

Hoederer: Não lhe façam mal. (cai numa poltrona.) Foi por cíumes que ele atirou.

Slick: Que quer isso dizer?

Hoederer: Eu era amante da mulher. (Pausa.) Ah! Que estupidez!

(Morre.)

(Cai o pano)

(...)

Hugo: Oh! Sei muito bem o que me terias dito. Ter-me-ias dito: «Sê modesto, Hugo. As tuas razões, os teus motivos, pouco nos importam. Tínhamos-te pedido que matasses o homem e tu mataste-o. O que conta é o resultado.» Mas eu, Olga... não sou modesto. Não conseguia separar o assassínio dos seus motivos."


O intelectual e idealista Hugo que tinha sido incumbido pelo seu partido proletário de assassinar Hoederer, acaba por fazê-lo por questões meramente passionais. E por um beijo se assassinou um dos líderes do partido. É, ou não, participação política?

sexta-feira, 5 de março de 2010

Prioridades...



Deixem-me falar-vos em clichés. Os clichés são inúmeras vezes suportes do politicamente correcto ou do pouco aprofundamento reflexivo em relação a determinada temática. No entanto, e analisando a presente situação do país nas suas mais variadas vertentes, tenho de aplicar um: «a vida é feita de prioridades». E não tenho outro remédio senão hierarquizar os problemas deste nosso cantinho à beira-mar plantado.

Vejamos alguns dos problemas actuais da nossa sociedade: implicações da austeridade do futuro programa do PEC, pressões dos mercados internacionais sobre a nossa dívida externa, efeitos ruinosos da catástrofe natural ocorrida na ilha da Madeira em vidas humanas e prejuízo financeiro, a assustadora taxa de desemprego e...o suposto 'polvo' que visava tentacular os órgãos de comunicação social portugueses, agora averiguado por uma comissão ética.

Em relação aos fenómenos relatados, quase me apetece desafiar o leitor a jogar ao "elemento que não se coaduna com os restantes". Talvez este exercício facilite o vislumbre daqueles que considero os verdadeiros desafios que Portugal enfrenta e para os quais devemos estar atentos.

Não, não é que considere que a manipulação da imprensa não é um obstáculo grave à democracia de opinião prevista na Constituição. A questão é como tem sido tratado o escândalo pelas próprias figuras envolvidas no processo. A abordagem que tem sido feita não me agrada minimamente e desmotiva-me de tentar encontrar uma resposta para as interrogações que guardo face a esta temática.

Por esta razão ignoro as chamadas do primeiro-ministro para o Rei Juan Carlos, até porque aconselho a que estes devam ter em mente outras prioridades.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O sorriso da liberdade...


Por entre notícias e soap operas que nos tentam rotinizar e subjugar perante o quotidiano e o nosso triste destino, por vezes são as efemérides que nos recordam exemplos de luta por valores humanistas como a liberdade ou a igualdade. Refiro-me concretamente à data de 11 de Fevereiro de 1990, quando Nelson Mandela venceu os calabouços e iniciou o princípio do fim do regime de apartheid.

Não quero neste texto me debruçar sobre os anos em que governou a África do Sul, sobre as suas amizades ou sobre outras possíveis polémicas. Quero apenas destacar a sua preserverança, a sua resistência e o seu diálogo no sentido de terminar com a segregação racial e unir as diferenças étnicas em torno de uma bandeira.

É, por isso, que guardo o sorriso da liberdade de Mandela na minha mente sempre que vejo uma situação diária de desigualdade. Nesses momentos de injustiça recordo a Satyagraha de Ghandi e o sonho de Luther King ou mesmo a determinação de Aminetu Haidar. Eles recordam-me quais são os princípios pelos quais me devo reger na minha vida, nos bons e maus momentos.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Desabafo


Após mais uma das minhas caminhadas no deserto por força dos meus encargos e responsabilidades de pendor académico, resolvi voltar às lides da blogosfera de que tanto gosto. Aproveito por isso para me queixar. Sim para me lamentar da técnica, da eficiência, da desumanização. É verdade, acreditem, neste texto assumo uma convergência com Arendt: a técnica não permite a actividade puramente humana. Não permite a reflexão, o diálogo, a criação, mas unicamente a atomização social e a sociedade de massa.

Na verdade, esta minha melancolia encerra lágrimas pelo Maquiavelismo, pelo exacerbado pragmatismo, pelo descrédito do idealismo e da vitória dos sentimentos sobre o balanço estatístico da humanidade que não os inclui. Esta minha tristeza encerra lágrimas pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento, pelas agências de rating, pelo congelamento dos salários da função pública ainda que existam gestores públicos pagos a peso de ouro, pelo diálogo político de fachada, pelo consumismo e pela indistinção entre domínio privado e domínio público. Esta minha infelicidade não esconde lágrimas pela humanidade.

Espero que compreendam esta dor de um inconformado e incurável sonhador que o PIB per capita ainda não enganou.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Thomas Hobbes e a impossibilidade de o povo governar



A compreensão da concepção moderna de democracia representativa pressupõe o estudo do governo representativo e dos principais autores que sobre ele reflectiram, quer do ponto de vista da sua necessidade, quer da sua melhor formulação. Contudo, convém referir que os denominados "fundadores" não perspectivavam o governo representativo como poder nas rédeas do povo mas antes como uma estrutura decisória capaz de dirigir os destinos das massas. Acima de tudo, as instituições políticas eram vista «enquanto mecanismo estrutural de tomada de decisão nas sociedades complexas» (MARTINS, 2008:65).

Por entre os autores do governo representativo, convém referir o nome de Thomas Hobbes, considerado um dos primeiros teóricos acerca da problemática da autoridade política e «um dos primeiros grandes pensadores, depois de Maquiavel, da realidade política e, em particular, o primeiro teórico do Estado representativo» (BARAQUIN, Nöella, LAFFITTE, Jacqueline, 2007: 190). Através da sua filosofia será possível verificar em que medida contribui teoricamente para a concepção de governo representativo.

Para compreender os contributos de Hobbes para a teoria da representação convém referir a sua concepção contratualista assente num pessimismo antropológico. Na verdade, é o estado de natureza caótico e anárquico, próprio da célebre frase “o homem é o lobo do homem” que motiva o contrato social, elemento necessário e imprescindível para a criação do Leviatã, entenda-se Estado. Este é criado pelo consentimento dos homens, que cansados do medo da morte renunciam os seus direitos naturais em favor de um soberano, condição que os obriga a subordinarem-se a qualquer lei artificial de carácter absolutista da monarquia ou assembleia instaurada. Deste modo, e seguindo a teoria da caixa negra, os representantes transferem a sua autoridade para um actor que daí em diante possui toda a autonomia e confiança para agir no âmbito de um mandato representativo e livre. Daqui se conclui que para Hobbes existia uma impossibilidade do povo governar dado que nenhum sujeito «será autorizado a censurar qualquer acção do Estado, porque cada um autorizou previamente essa acção, ou seja, reconheceu-a como sua» (BARAQUIN, Nöella, LAFFITTE, Jacqueline, 2007:193) que a «soberania do Estado é absoluta porque resulta da renúncia dos direitos ilimitados do indivíduo a favor daquele» (BARAQUIN, Nöella, LAFFITTE, Jacqueline, 2007: 193).

Com base nestes pressupostos teóricos de Hobbes, e aplicando-os à representatividade na governação, verifica-se o seu contributo para o princípio do governo indirecto e a defesa de uma elite necessária para a tomada de decisões que não podem estar a cargo do povo. No entanto, e apesar do absolutismo defendido – o que lhe valeu críticas de Locke –, Hobbes contribuiu ainda de outra forma para a teoria do Estado moderno, ao atribuir-lhe o monopólio do direito positivo.



Bibliografia:

Livros

MARTINS, M. Meirinho (2008), Representação Política, Eleições e Sistemas Eleitorais – uma introdução, Lisboa, Instituto de Ciências Sociais e Políticas.

BARAQUIN, Noëlla et LAFFITE, Jacqueline (2007), Dicionário de Filósofos, Lisboa, Edições 70

Imagens

Capa do Livro Leviatã de Thomas Hobbes, desenhada por Abraham Bosse.